É de manhã.
Acordo, e erguendo a cabeça suavemente, olho pela janela. E que vejo? Vejo o paraíso onde vivo.
Talvez este paraíso não seja como muitos esperam, talvez não seja aquele lugar mágico onde talvez se possa repousar sem problemas e preocupações.
Não é. Este paraíso a que me refiro, é apenas , o local onde vivo.
E porquê, perguntareis vós.
Porque neste local onde vivo a que chamo de paraíso, não morro de fome, não morro com malária ou sida nem vejo a minha família morrer por tais (ou outras) cruéis enfermidades.
Este paraíso onde vivo, por vezes me cega e por vezes torno-me aliado dessa cegueira, mas tenho de resistir e ter forças para poder dizer NÃO. Devo contorná-lo, devo olhar para além da janela que me impede de ver a realidade. Não devo, pois, fechar os olhos e o coração, mas sim abri-los, cada vez mais, sem receio nem medo, mas sim com amor e determinação.
Porque devo deixar este paraíso? Porque, não eu, mas outros, olham pela janela e apenas vêm miséria e destruição, fome e morte.
Como posso repousar sabendo de tal? Como poderei viver comigo próprio sentindo-me um egoísta para com os outros?
Este acampamento, o Acampáki, despertou em mim todos estes sentimentos. Espero nunca os perder e mantê-los sempre dentro de mim para nunca me esquecer de rezar por todos os que sofrem, por todos os oprimidos.
Guardo deste acampamento todos os bons momentos e espero continuar a acampar e carminhar com ELE.
Guardo também todas as amizades.
E guardo a esperança de mais um acampáki:-)
Francisco de Babo Martins
[Aldeia de S. João da Cruz - Caíde]